terça-feira, 27 de abril de 2010

HISTORIA DE UM DESEJO


«HISTÓRIA DE UM DESEJO
Quando em 1975, um grupo de mais de 30 jovens na grande maioria do sexo masculino, solicitamos ao Sr. António Aurélio a cedência de um barracão no lugar dos bacelos, estava nas nossas mentes a criação de uma CASA DE CULTURA com o objectivo de desenvolver actividades culturais, desportivas e recreativas, que permitisse a todos os jovens a ocupação dos tempos livres e simultaneamente desenvolver capacidades morais e intelectuais que pudessem beneficiar cada um de nós e toda a população. Porque o espaço era exíguo e sem as mínimas condições para os objectivos que tínhamos, procuramos rapidamente outra solução. Naquela altura, não havia casas livres excepto a casa do Pároco da freguesia, legada em testamento pela senhora Pelícia Carneiro (tia do meu pai), à igreja. A casa estava vazia há muito tempo e o seu estado de conservação bastante deteriorado. No entanto, porque não encontrávamos lugar melhor, decidimos solicitar ao sr padre Zé se nos podia ceder a dita casa, para os fins acima referidos. Depois de algumas de marches e pedidos de influencia junto de pessoas mais velhas, o sr. Padre lá nos disponibilizou o lugar. Radiantes e cheios de esperança e vontade de trabalhar, lançamos mãos á obra limpando e reconstruindo a habitação de modo a assegurar o máximo de segurança quer dos tectos quer do sobrado, partes que estavam em pior estado de conservação. Reconstruída de forma precária a habitação (não havia recursos financeiros para efectuar intervenções de grande monta), demos inicio às actividades ligadas ao teatro (poucas), organização de bailes (muitos), e dando também inicio a uma campanha de alfabetação, com o propósito de ensinar a ler e a escrever algumas pessoas idosas e analfabetas da freguesia. Recordo-me , com imensa satisfação que ensinamos a ler e a escrever a esposa do sr. José Barreira, a srª. Rosária Ló . A sua força de vontade era tal, que ao fim de dois meses, já escrevia e lia em qualquer papel. Todos, umas vezes uns, outras vezes outros, conseguimos o objectivo central da campanha. Foi apenas uma que aprendeu a ler. Mas neste caso, uma, era muito. Mesmo muito.
Depois em 1981/82, quando demos personalidade jurídica a Associação Cultural Desportiva e Recreativa “Spot Club de Vale de Gouvinhas”, também constava dos seus estatutos e no espírito da colectividade o apoio às crianças e aos idosos, para além das actividades normais da Associação. Por falta de um espaço condigno, não foi possível desenvolver algo de relevo, nomeadamente quanto à criação de um CENTRO DIA, que na altura ainda se equacionou. Em 1992, com a criação do CENTRO SOCIAL E PAROQUIAL, NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, (I.P.S.S.) cujo objecto visava sobretudo as questões ligadas à igreja, mas também a criação de um "CENTRO DE DIA" e perspectivas de construção de um LAR no futuro. Para esse efeito, e com o acordo do sr. Padre, foi doada ao CENTRO SOCIAL a casa do Pároco (aquela que havia sido a primeira sede da CASA DE CULTURA atrás referida), , com a intenção de ser adaptada e construídas instalações de apoio às pessoas idosas e com necessidades de acolhimento. (a junta de freguesia tem em seu poder a escritura de doação e os estatutos desta Associação). Por razões várias, nomeadamente financeiras, não havia terreno disponível para construir um espaço digno e que oferecesse as condições mínimas que proporcionassem total segurança e salubridade aos potenciais utentes. A acentuada desertificação da gente da própria freguesia, uns porque tiveram que Emigrar, outros Imigrar (o emprego sempre foi escasso nestas redondezas) e também porque foi uma década em que faleceram algumas dezenas de pessoas mais velhas, este projecto acabou por não ter pernas para andar, ficando em lista de espera durante alguns anos.
Mais tarde, pelo ano de 2000, procurou-se dar novo impulso ao CENTRO SOCIAL de forma a reiniciar os objectivos ligados ao centro dia e lar para idosos. Porém, verificou-se que a mudança da legislação que entretanto tinha ocorrido, a casa do Pároco, propriedade deste CENTRO SOCIAL, não oferecia as condições necessária para se poder aprovar fosse o que fosse, relacionado com os tão desejados objectivos. Aqui mais uma vez, se entrou de novo num impasse, até se poder arranjar um terreno onde se pudesse construir um edifício consentâneo com a lei e de acordo com os objectivos traçados há muito tempo. Foi então que em 2005, com a garantia da doação de um excelente terreno doado pela Junta de Freguesia, exclusivamente para esse fim, e com a força e dinâmica da Lena Verdelho, Guida Verdelho e a Laurinda Carneiro (Lisboeta de nascença, mas apaixonada pela gente da freguesia de VG), reiniciamos (mais uma vez, uns da velha guarda e outros mais recentes, cerca de uma trintena de valgouvinhenses, agora mais maduros) novo processo que culminou com a criação da "Associação Terras do Marião” que visa fundamentalmente o apoio e construção de estruturas viradas para as crianças e os idosos, ou seja, o famigerado Lar para a Terceira Idade.