segunda-feira, 6 de abril de 2009

ESTADO DE ESPIRITO



Todos aqueles que vivem ou viveram a realidade agrícola desde pequeninos até à idade adulta, deparam e depararam com espectáculos deslumbrantes e desoladores com maior ou menor frequência do meio rural, hoje, estou certo, rói-lhe a alma ao ver os efeitos do fogo do frio das geadas.
Vem isto a propósito do estado de algumas culturas, após As geadas ocorridas nestas duas últimas semanas. A contrastar com o renascer e desabrochar dos gomos florais e das tenras folhas das árvores, das mais várias espécies vegetais, regista-se o espectáculo triste e desolador espelhado nos rostos de quem com maior dedicação e denodo, laboriosamente desbrava e rompe o solo ano após ano, década após década, para cuidar da sua agricultura. As geadas, essas miseráveis geadas, que só servem para desinfectar os solos de alguma bicharada menos resistente, teima sucessivamente em fazer das suas quase todos os anos. Os rostos tristes, mesmo daqueles que pouco ou nada têm directamente a perder, seus olhares de espanto e desanimo, transmitem-nos um estado de espírito profundamente angustiante, quanto mais àqueles a quem mais directamente diz respeito.
É preciso ter-se muito “estômago”, para se ficar indiferente, ao queimar das folhas, das flores, dos frutos e até das árvores que desenham o horizonte natural do espaço que ninguém diz querer urbano, cujas paisagens amimam os nossos olhos, afinam os nossos sentidos e dão prazer ao nosso ser.
Ao percorrer este espaço do interior transmontano soalheiro e agradável durante o dia, nada faz prever que mesmo ali ao lado mora a tristeza e a morte. A morte dos frutos que iriam fornecer o alimento das famílias, colmatar as despesas e compensar o esforço dispendido ao longo de vários meses e de madrugadas de sono perdido.
Fazer nada, é quase tudo o que todos fazem, para compensar minimamente os estragos materiais e psicológicos causados a tão nobre e dura gente, a qual, vem resistindo estoicamente a tão miserável destino. O POVO DO INTERIOR PROFUNDO.


Quão triste te vejo ó mundo!
Neste cantinho de todos.
Que amamos mesmo do fundo!
Envoltos em muitos lodos.

Lodos de cor cinzenta!
Mas que já ninguém se espanta!
Lodo que se alimenta.
À custa da gente santa!

HAC

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